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Defensor diz que vai recorrer da pena de 136 anos de prisão do atirador da Chacina de Sinop

Responsável pela defesa de Edgar Ricardo de Oliveira, condenado a 136 anos de prisão pela Chacina de Sinop, o defensor público Ricardo Bosquesi, disse que irá recorrer da sentença. O crime aconteceu a 504 km de Cuiabá e deixou sete pessoas mortas em fevereiro de 2023.

Defensor público Ricardo Bosquesi (Foto: Reprodução)

Após o julgamento na noite desta terça-feira (15), o defensor disse que Edgar também afirmou que pretende recorrer da sentença. Ele foi condenado a cumprir prisão em regime fechado, que foi fixada em 136 anos, 3 meses e 20 dias de reclusão, além de 30 dias/multa no valor de R$ 200 mil a ser pago às famílias da vítimas.

“O acusado resolveu recorrer, e vamos apresentar as razões e aguardar a definição do Tribunal de Justiça. Ele já está cumprindo pena desde o tempo que ele foi preso preventivamente. Isso será levado em consideração também na pena cumprida e quando vier o recursos ele estará em regime fechado. Vou recorrer também porque acredito que caberia o que eu havia pedido, que é a continuidade delitiva, e não a somatória das penas. Também aleguei uma nulidade processual que será levada ao tribunal“.

O pedido de anulação do processo, conforme o defensor, se dá pelo fato de as testemunhas terem tido acesso aos depoimentos umas das outras, já que todo julgamento foi transmitido ao vivo. O júri popular começou na manhã desta terça-feira (15) às 8h40 e o resultado saiu às 21h22.

O promotor de Justiça, Herbert Dias Ferreira, disse que a pena foi bem aplicada pelo tribunal do júri, formado por 7 jurados que moram na cidade de Sinop. “Recorrer é um direito de fato do réu. Inclusive, já foi consignado esse interesse dele. Ele vai apresentar as contra-razões. Entendemos, no entanto, que a decisão foi correto e justa, à altura da gravidade do crime que ele praticou”.

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Edgar foi condenado a mais de 136 anos de prisão.

Edgar foi condenado por 7 homicídios qualificados com as seguintes qualificadoras:

  • Motivo torpe
  • Meio cruel que resultou perigo comum
  • Recurso que dificultou defesa das vítimas
  • Agravante por homicídio contra menores de 14 anos
  • Roubo majorado
  • Uso de arma de fogo
  • Furto

Ezequias Souza Ribeiro, que estava junto com Edgar durante o crime, morreu em confronto com a polícia.

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Edgar e Ezequias executaram sete pessoas em Sinop (Foto: Arquivo pessoal)

Relembre o caso

Dois jogadores de sinuca, Ezequias Souza Ribeiro e Edgar Ricardo de Oliveira, perderam cerca de R$ 4 mil em apostas em jogos. Insatisfeitos, eles foram protagonistas de uma atrocidade que ficou conhecida nacionalmente como a Chacina de Sinop.

Tudo foi registrado por câmeras de segurança do estabelecimento (veja acima – imagens fortes). Ezequias, com uma pistola, pede para que algumas das vítimas fiquem de costas, viradas para a parede. Enquanto isso, Edgar pega uma espingarda calibre 12 mm na caminhonete e chega atirando nas vítimas.

Durante o julgamento, o representante do MP disse que “a prova grita, que o vídeo diz tudo pois revelou a crueldade do réu”. Conforme a acusação, o crime foi cometido por vingança após um jogo de bilhar. “Ele fez de forma consciente e deliberada” e é por isso que o MP entende que a qualificadora de crime contra a pessoa menor de 14 anos seja reconhecida”.

Algumas das vítimas foram atingidas pelas costas. Outras, entre elas a adolescente, tentaram correr e foram atingidas já fora do bar. Todo o crime é executado em menos de 12 segundos.

As vítimas foram identificadas como:

  • Maciel Bruno de Andrade Costa – 35 anos.
  • Orisberto Pereira Sousa – 38 anos
  • Elizeu Santos da Silva – 47 anos
  • Josué Ramos Tenório – 48 anos
  • Adriano Balbinote – 46 anos
  • Getúlio Rodrigues Frasão Júnior – 36 anos
  • Larissa Frasão de Almeida – 12 anos, filha de Getúlio.
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Vítimas da Chacina de Sinop (Foto: Montagem; Arquivo pessoal)

Entre as testemunhas estavam: Raquel Gomes de Almeida – que perdeu a filha, Larissa Frasão de Almeida, e o marido, Getúlio Rodrigues Frasão Júnior, no ataque.

Kelma Silva Santos de Costa, esposa de Maciel Bruno, uma das vítimas, falou presencialmente ao júri. Ele era dono do bar onde o crime ocorreu.

Depoimento do réu: “Ninguém morre de graça”

Durante o julgamento, Edgar afirmou que tinha problemas de relacionamento com algumas das vítimas, principalmente o dono do bar (Maciel Bruno).

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Edgar, em primeiro plano, e Bruno (Foto: Reprodução)

“Sim, ninguém morre de graça. Cada um respondeu por si no momento do fato”.
Promotor – até a Laís? (menina de 12 anos atingida pelas costas)
Réu – “Não, a Laís foi um tiro acidental”.

O réu, Edgar, disse que apesar da amizade que mantinha com Bruno, ele acreditava que Bruno estava tramando contra ele. Que armava um assalto para o dia que ele teria dinheiro. Ele afirmou que tudo que aconteceu foi uma junção de vários fatos relacionados ao Bruno, com quem teve várias desavenças antes do crime. Ele frequentava o bar desde 2017.

Promotor – o senhor não se recorda do momento dos tiros?
Réu – Eu lembro, mas não me recordo em que momento eu perdi o controle.
“Agi no impulso da raiva, quando dei por mim já tinha feito tudo e minha raiva já tinha sido acesa antes”, disse Edgar.
“Quando dei por mim, estava na Gleba Mercedes. Não lembro do que aconteceu”, disse o réu.

Na hora do crime

“Começamos a jogar. Mas, eles começaram a fazer indiretas. Então, eu chamei o Ezequias para ir embora. Mas, ele sugeriu para eu cheirar cocaína. Não quis, mas ele me convenceu. Fui no banheiro e cheirei a cocaína. E voltou com a minha cabeça virada já, só ouvia as vozes. Mas, eu não tinha nada contra aquelas pessoas, algumas eu nem conhecia direito. Nunca fui um bandido”, disse Edgar.

E voltou com a minha cabeça virada já, só ouvia as vozes. Mas, eu não tinha nada contra aquelas pessoas, algumas eu nem conhecia direito. Nunca fui um bandido”, disse Edgar.

“Na cadeia vai viver, diferente do que fez com as vítimas”

Após sentença, a filha de Orisberto Pereira Sousa, uma das vítimas que morreu aos 38 anos, Gislene de Aquino Sousa comentou o sentimento após a sentença.

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Gislene de Aquino Sousa é filha de uma das vítimas da Chacina de Sinop

“Estávamos com uma ansiedade enorme, sem dormir nas últimas noites. A gente queria que ele pagasse da mesma forma por ter tirado a vida do meu pai e de outras seis pessoas. Dói. Eu, por ser filha única, tinha apenas meu pai presente pra mim e foi muito dolorido ver minha mãe, minha vó e, principalmente, a Raquel que perdeu o esposo e a filha. Não sei, mas acho que ele vai morrer lá (na cadeia) porque 136 anos é impossível viver. Pra gente, é um alívio, mas na cadeia ele vai comer e dormir, vai viver, diferente do que ele fez com as vítimas, mas achei que a justiça foi feita”, disse ela.

O julgamento foi presidido pela juíza Rosângela Zacarkim dos Santos, da 1ª Vara Criminal da Comarca de Sinop, e transmitido ao vivo pelo Primeira Página. Ao todo, 25 jurados titulares foram convocados. O réu, que está preso na PCE (Penitenciária Central de Mato Grosso), em Cuiabá, participou do julgamento por videoconferência.

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